“Banhados em Cristo, somos uma nova criatura, as coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo, aleluia, aleluia!”.
O batismo nos insere no mistério de Cristo morto e ressuscitado. Cada batizado é chamado a seguir Jesus Cristo e a conformar a própria vida a dele, caminhando sempre na novidade de vida (cf. Rm 6,4). A experiência íntima com o Cristo pascal, cresce, desenvolve-se e se consolida, participando da eucaristia, na qual, cada batizado se une com Cristo na oferta da própria vida ao Pai mediante o Espírito. A vida cristã é fundamentalmente vida em Cristo pelo dom do Espírito, fruto da Páscoa.
Ser espiritual significa viver segundo o Espírito de Deus. A espiritualidade tem a ver com tudo o que somos e fazemos, segundo o Espírito. O Espírito acende em nós o amor, a paixão por Jesus Cristo e nos leva a pautar toda a nossa vida pela intimidade com ele. “A espiritualidade cristã, que é o seguimento de Jesus, se alimenta de uma verdadeira paixão por Ele, de uma amizade singular (...) de uma compenetração intimíssima, comunhão mesmo”.1
Embora vivamos em tudo segundo o Espírito de Deus, podemos ter momentos específicos para alimentar a vida espiritual.
De acordo com a tradição mais antiga da Igreja, a vida espiritual é ancorada na participação na liturgia. Na liturgia o tempo cronológico é transformado em tempo de Deus – Kairológico. Tempo da ação de Deus, que sempre agiu em favor do seu povo.
Ao fazermos memória da páscoa do Senhor, participamos de seu mistério de morte e ressurreição. Em outras palavras, fazer a memória do Cristo é participar; é entrar em comunhão com o seu corpo (tornar um só corpo com Ele e com os irmãos); é participar do seu destino; é participar da ressurreição na vida que brota da sua entrega. Quando nos reunimos para celebrar o mistério de Cristo, Ele mesmo, por seu Espírito, nos vai moldando à sua estatura, porque assume nossa vida em seu mistério (cf. At 20,7-12).
O caminho de configuração com Cristo se dá pouco a pouco, no itinerário pedagógico-espiritual que o ano litúrgico proporciona. Durante o ano litúrgico, que tem como eixo e fundamento a páscoa, vamos progressivamente inserindo-nos no mistério pascal de Jesus Cristo. “Trata-se da recriação de nosso eu, adquirindo a forma de Jesus Cristo ressuscitado, segundo o Espírito de Deus. É processo lento e sofrido, e ao mesmo tempo alegre e esperançoso, que deverá durar até a nossa morte. Perfazendo seu próprio caminho pascal, cada pessoa está ao mesmo tempo participando e colaborando na páscoa de todo o tecido social, de toda a realidade cósmica (Cf. Rm, 8, 18-25), até à plena comunhão, quando Deus será tudo em todos (Cf. 1Cor 15,28)”.2
A celebração litúrgica repercute na vida e a vida é celebrada. Celebração e vida estão intimamente ligadas.
Como seguidores de Jesus Cristo progressivamente nos tornamos uma coisa só com ele. É um processo, como dissemos acima, que atinge todo o universo e que se dá concretamente no cotidiano da nossa história. Cristo, embora tenha passado pela morte, venceu-a. Nós também venceremos. Acreditemos na vida.
Perguntas para reflexão pessoal e em grupos:
1. Comente sobre o sentido do Tempo Pascal.
2. Como vivemos e celebramos o mistério pascal?
3. O que fazer para experienciar intensamente o Cristo pascal, principalmente neste Tempo?
Ir. Veronice Fernandes
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1 Dom Pedro CASALDÁLIGA, Nosso Deus tem um sonho e nós também; carta espiritual às comunidades. In: 10. Encontro Intereclesial, Ilhéus (BA), 11-15 de julho 2000, CEBs: Povo de Deus, 2000 anos de caminhada; Texto-base. Editora Fonte Viva, Paulo Afonso, 1999, p. 75, citado por Ione Buyst, em Espiritualidade Litúrgica, Curso de Atualização em Liturgia, São Paulo, janeiro de 2008.
2 Ione BUYST. Viver o mistério pascal de Jesus Cristo ao longo do ano litúrgico: um caminho espiritual. Semana de Liturgia, São Paulo. outubro de 2002.